Escrevo um instante depois do pensamento vir. Enquanto dirijo, o pensamento flui livremente. Por isso é difícil capturar o pensamento. Ele é ágil como a Matilda na BR381. Quando paro junto com a Matilda, eu também fico estranhada e o meu pensamento parece parar comigo.
Definitivamente, pertencemos à estrada: Matilda, Anatol e eu. Também pertencemos aos amigos e às suas cozinhas que nos acolhem. Cada casa é uma casa e cada estrada é uma estrada.
Nas duas, o entendimento chega aos poucos.
Conforme andamos sentimos como a estrada está acostumada a receber carga pesada ou gosta de desenhar curvas. Claro, que isto implica um pouco de sofrimento da suspensão ou dos freios da Matilda.
Nas casas, também aos poucos entendemos seu funcionamento. Descobrimos seus espaços vazios, diferenciamos as geladeiras das girafas e sempre esbarramos com o lugar onde o liquidificador insiste em se esconder.
Assim também compreendemos esta viagem, dia a dia. Planejando apenas até hoje, agora, sendo práticos e não tendo pressa. A urgência que vivemos é de outro tipo: a da dependência uns dos outros.
Arístides Vargas, na sua peça de teatro "Nossa Senhora das Nuvens", escreve:
Conheci um homem que fez uma ferida no braço direito, gangrenou-se. Não havia médico, não havia hospital; decidiu ele mesmo fazer uma auto-cirurgia. Pegou um machado e começou o dilema. Como amputar o braço direito com o braço direito? Conclusão: necessitamos de outro para nos mutilar, necessitamos de outro para nos ajudar, sempre necessitamos de outro.
2 comentários:
Coco sempre embalando a imaginação!
Isso é fruto da viagem e das cozinhas... das pessoas e suas histórias como a tua, Thales. Um beijo grande para toda tua família.
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